Ao completar 60 anos (fundada em 21 de abril de 1960), a capital do Brasil, Brasília (DF), projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, divide opiniões e provoca paixões. Eu sou da parte apaixonada, que ainda se surpreende com a monumentalidade de sua construção e com a inesperada serenidade de sua arquitetura. Uma cidade inteira, uma capital nacional erguida do zero, da prancheta, no meio de um deserto no centro do país em menos de quatro anos. Um feito hercúleo, expressão que nos colocou no mapa ao lado dos grandes países da arquitetura moderna mundial.
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Chegar em Brasília é como aterrissar em outro planeta, uma cidade do futuro, que impressiona pela beleza e leveza dos traços inovadores de Niemeyer, com suas curvas ao mesmo tempo muito audaciosas e singelas. Como o próprio arquiteto colocou certa vez, “pode gostar ou não dos palácios, mas não pode dizer que viu antes coisa parecida. E arquitetura é isso – invenção”. Este caráter inventivo, único, aliado à impressionante velocidade de sua construção, trouxe uma mensagem de otimismo, um entusiasmo nacional. Fincou-nos a ideia de que somos capazes de criar algo nosso, autêntico, grandioso, um exemplo para o mundo. “Em Brasília, o jeito moderno brasileiro de fazer monumentos conseguira conciliar economia e luxo, simplicidade e imponência”.
Brasília foi inaugurada em um momento muito particular da política e da cultura nacionais, em que mudanças significativas ocorriam na arquitetura e nas artes. Contávamos então com inúmeros grandes talentos, artistas, arquitetos, designers, intelectuais: Niemeyer, Lúcio Costa, Burle Marx, Lina Bo Bardi, Ferreira Gullar, Ligia Clark, Athos Bulcão, Candido Portinari, Jorge Zalszupin, Sergio Rodrigues, entre tantos outros. Escutei certa vez, de um grande arquiteto e crítico: ”Deus estava de bem com o Brasil na concepção de Brasília, juntou num mesmo momento, um urbanista genial [Lúcio Costa], um arquiteto genial [Niemeyer], um paisagista genial [Burle Marx] e um político para realizar”. Brasília é fruto destes felizes encontros, e sua existência nos fez mundialmente conhecidos pela modernidade e ousadia.
Nenhuma das capitais contemporâneas fundadas após a Segunda Guerra pode se igualar a Brasília. Nossa capital, apesar de seguir os preceitos modernizantes de Le Corbusier, é a única com uma identidade 100% brasileira, que nos diferencia do resto do planeta. Fato de que por si só, deveríamos nos orgulhar e batalhar pela retomada desta grandeza na nossa produção.
Ando pelo mundo a promover o legado e a importância do design moderno brasileiro e, não importa onde esteja, Brasília, a arquitetura nacional e nossos grandes mestres são sempre assuntos de interesse. Ainda me surpreendo com o conhecimento e, sobretudo com o entusiasmo que a audiência internacional tem sobre o tema. Tristemente não sinto o mesmo aqui no Brasil. Claro que tenho e devemos ter muitas críticas para com Brasília e a arquitetura de Niemeyer, mas acredito que com sua construção ganhamos muito mais do que perdemos.
Especialmente agora, neste momento sensível em que vivemos confinados em nossas casas, deveríamos nos voltar para nossa história, refletir a partir da realização dos grandes feitos como Brasília, o que podemos alcançar daqui em diante – e ir atrás.
Por Lissa Carmona
Foto: MTur