É na fábrica da Papel da Amazônia, no bairro da Cidade Velha, em Belém, que a mágica acontece. Fibras naturais da Amazônia são transformadas em papel artesanal. E logo em seguida esse papel pode se transformar em qualquer coisa nas mãos de uma talentosa equipe: o artista plástico Zoca, a designer Thais Bezerra e os artesãos Edson, Jailson e Luiz Cláudio. “O que produzimos é diferente de papel reciclado, pois não é feito papel a partir de outro papel. Nós produzimos papel artesanal reaproveitando resíduos sólidos como a vassoura do açaí, o bagaço da cana de açúcar, a fibra de côco e a casca do muruci”, explica Zoca. Depois a oficina de design transforma esse papel em produtos como cadernos, agendas, luminárias, pastas, caixas, blocos, planners, fichários, e o que surgir de demanda dos clientes.
Fotos: Ana Dias.
Texto: Luiz Cláudio Fernandes.
O processo criativo ocorre de forma colaborativa, em equipe. “Trabalhamos próximos uns dos outros, os da criação e os de desenvolvimento de produtos. Enquanto um pensa alguma coisa, o outro desenha, logo passa para a fabricação, e imediatamente se faz ajustes. É legal ter essa dinâmica de oficina. E a equipe é muito afinada, isso facilita”, explica Zoca.
“No espaço funcionam a fábrica da Papel da Amazônia, o Ateliê do Zoca, com meu trabalho mais pessoal e contemporâneo nas artes visuais, e um escritório de artes gráficas”
Zoca
A sustentabilidade e a valorização do patrimônio cultural da região são valores da Papel da Amazônia. A procura deu tão certo que, além de uma oficina de produtos personalizados em grande escala para empresas e eventos, a Papel da Amazônia se transformou em uma loja de produtos comercializados na própria fábrica. Nas edições do Circular Campina Velha, por exemplo, é grande a demanda de clientes na loja da fábrica e também no Ateliê do Zoca.
Tanto o Ateliê do Zoca quanto a Papel da Amazônia mantém parceria com arquitetos, designers e empresas ligadas ao ramo da decoração, prestando a assessoria necessária para os profissionais e os clientes deles.
Ateliê do Zoca: Rota imperdível
José Fernandes, ou Zoca, como é conhecido, se vinculou à fábrica da Papel da Amazônia há 10 anos, quando ela já existia. Ao ter de dividir o tempo com as atividades das artes plásticas e do escritório de artes gráficas, decidiu se distanciar da vida acadêmica. Durante 10 anos ele deu aula em cursos de Arquitetura, Design e Moda, ou seja, sempre ligado ao desenho e à comunicação visual em geral.
Com tantos afazeres, quase não sobra tempo para pintar e desenhar no ateliê ao longo do dia. Então é em casa, nos finais de semana, à noite ou de madrugada, que ele dá voz ao Zoca artista plástico, dono de traços e pinceladas marcantes.
Zoca pinta e desenha desde criança e vem de uma família de artistas. A mãe, tios e primos respiram arte. Ele é arquiteto e mestre em Comunicação, Linguagens e Cultura. Sempre atuou na linha da comunicação visual dentro da Arquitetura. Em 2012 iniciou um trabalho mais pessoal nas artes visuais, quando teve sua primeira participação em um edital, em Blumenau (SC). Então seguiu adiante com participação em exposições individuais e coletivas, entre elas na Galeria do CCBEU (2014), no Museu da UFPA (2015), na Galeria Elf, no Museu da Casa das 11 Janelas, entre outros lugares.
Está aberta em seu ateliê uma montagem em razão da volta do projeto Circular Campina Velha. Por estar no centro histórico de Belém, o ateliê entra no circuito e recebe visitantes nas edições do projeto. “Chamei essa montagem de Álbum de Retratos porque reuni diversas representações da figura humana, desde os primeiros trabalhos dessa linha pessoal”, explica Zoca. “Tem trabalhos de 10 anos para cá, nos quais a gente pode ver certas similaridades, mas também transformações. Sem que se perca a unidade, o trabalho vai se transformando”, avalia.
Em geral, é perceptível que a procura de Zoca por trocas e experiências o transformam a cada novo trabalho. Com o tempo, a cor, por exemplo, passou a ser utilizada de maneira mais intensa nas pinturas e o corpo humano, menos realista, mais fragmentado, ou representado em síntese, é seguidamente composto e decomposto.
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