Uma artista em constante movimento e reinvenção, cuja velocidade do pensamento por vezes atropela a retórica. De uma gentileza sem igual, é assim a premiada artista paraense Elieni Tenório. Quem visita seu ateliê pela primeira vez não sai de lá sem um presente preparado por ela com muito carinho. E quem sai também logo quer voltar. Tudo encanta ali: as telas marcantes nas paredes, os objetos, a máquina de costura e os moldes e retalhos espalhados, os manequins expostos, … Sim, pois ela costura. Não apenas os vestidos que ela traja, mas também uma trajetória de sucesso.
Artista plástica Elieni Tenório: conheça o ateliê da paraense
“Quem adquire um trabalho meu leva consigo um pouco da minha essência”, afirma Elieni. Ela conta que já nasceu artista. Desde criança gostava de desenhar, cortar o pano e montar no vidro. Natural de Mazagão, no interior do Amapá, jamais cogitou se tornar a premiada profissional que é hoje, com um currículo cheio de exposições ao redor do mundo. “Não pensava em futuro, mas sentia que estava no caminho certo”, revela a mulher empoderada.
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O foco de sua criação é o universo feminino. Ela cria peças com cores, formas e superfícies. “Minha arte é um espelho de mim mesma”, avalia. Com essa convicção ela enfrentou os desafios, o machismo e mostrou o que uma grande artista consegue fazer.
Exposições fora do Brasil
Em 2008, em uma exposição na galeria Kunsthaus, na cidade de Wiesbaden, Alemanha, sua obra não chegou a tempo. Sem delongas, ela surpreendeu a todos ao criar uma obra ao vivo. “Fiz uma instalação na parede com o material que eu ia divulgar nas galerias. Então, comecei a coletar material para compor a instalação como: tesoura, cola, canetas de várias cores e o material que levei daqui. E comecei a trabalhar sem olhar para trás. Depois de algumas horas, dei uma parada para fazer um lanche e, quando olhei, estavam vários artistas de vários países me aplaudindo. Bravo! Bravo! E foi assim. Fiquei logo famosa”, conta.
Sensualidade erotismo
Em muitas das suas obras ela aborda a temática do desejo, transitando entre a sensualidade e o erotismo. Em uma fase intitulada “Volúpia” (2003), ela forrou discos de vinil com meia-calça feminina, que adquiriram forma semelhante às telas de bordado antigas e que, ora pintados com cores berrantes, ora costurados com linhas grossas, insinuam a anatomia dos órgãos sexuais humanos.
Trabalho sensorial
Seu trabalho tem um caráter sensorial. Ela se especializou em técnicas diversas além da pintura. Ou seja, suas obras compreendem muitas experimentações, incluindo técnica mista sobre suportes pouco convencionais, como papel de parede, vinil, tecidos e até embalagens ou frascos vazios.
A Eliene que costura
Elieni Tenório gosta muito de costurar. “Minha mãe era costureira”, relembra. “Ao trabalhar num pano, identifico minha própria história, mas principalmente a dela”. Ainda com relação ao que ficou para trás, a artista demonstra interesse na figura do corselet (ou espartilho), uma peça do vestuário feminino largamente utilizada no passado. “Ele tem a função de delinear a cintura e deixar a postura ereta”, explica. “Ao mesmo tempo em que aprisiona o corpo da mulher, modela-o”, complementa, com base em estudos relativos à geometria feminina.
Em ‘Sobre a pele’ (2006), trabalho ganhador do 2° Prêmio do Salão Arte Pará, a artista desenvolveu, por meio de manequins femininos, uma espécie de mapa investigativo de compreensão do corpo da mulher, no intuito de estabelecer seus limites e compreender as relações entre o sujeito e o mundo exterior. As peças, ao longo do tempo, sofreram adaptações, variando formato e suporte, e foram contempladas em concursos como a Bolsa de Pesquisa do Instituto de Artes do Pará – IAP (2009) e o edital Rumos Itaú Cultural – Artes Visuais (2009).
Pelo caráter particular e inventivo, a obra de Elieni Tenório desperta interesse por onde passa. Não foi diferente na Alemanha, mais precisamente na Galeria Bellevue-Saal, em Wiesbaden. Em uma mostra intitulada “Obsessão” (2009), a primeira individual que realizou no exterior, suas peças foram sucesso de crítica e se tornaram conhecidas em praticamente toda a Europa.
Conheça as exposições de Eliene no Brasil e fora dele
Ao longo de sua trajetória, Elieni já realizou diversas individuais no Brasil e no exterior: “Obsessão” – Galeria Belllevue-Saal, Wiesbaden, Alemanha 2008; Bienal Internacional de Arte Siart (La Paz – Bolívia 2009); 15° Bienal Internacional de Gravura de Sarcelles, França 2011; Mostra de Lyon de Gravura, Lyon, França 2011; 8° Bienal Naif do Brasil Entre Culturas, Piracicaba, São Paulo 2006; XIV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Cerveira, Portugal 2007; XXV Salão Arte Pará, 2° Grande Prêmio, Belém–PA 2006; 4° Bienal de Gravura de Santo André, Santo André-SP 2007; 1° Bienal de Sorocaba, Sorocaba – SP 2007; Rumos Itaú Cultural “Trilhas do Desejo” (Brasília), “Um lugar a partir daqui” (Rio de Janeiro), “Mapeando a arte visual brasileira” (São Paulo 2009).
Elieni hoje
Atualmente, a artista está trabalhando com as técnicas de pintura, de objetos e a técnica de crochê, produzindo os vestidos para o próximo desfile que irá acontecer no final do ano. “Nesses dois anos de pandemia tenho trabalhado muito. A minha produção é intensa. Trabalho independente de qualquer exposição. E quando sou convidada já tenho obras prontas”.
“Alguns marcos da minha carreira artística foram: ‘Suburbano Coração’, ‘Espelho da Alma’, ‘O Silêncio que Evoca’, que foi composta só com obras da técnica de Xilogravuras e Calcogravura e ‘Vestida de Obsessão’, que até agora marcou muito minha carreira. Foi nela que saí do figurativo e comecei a trabalhar o abstrato. E em 2019 a minha obra saiu da parede para a passarela na Exposição em movimento ‘Vestida de Obsessão’ e agora as cores fortes voltaram para minhas telas”.
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CONTATOS
Elieni Tenório
(91) 99921-6527
@elienitenorio36
Fotos: Alexandre Lima
Texto: Luiz Cláudio Fernandes