A exposição trouxe 20 imagens inéditas, que registram o olhar da artista sobre Belém. Segundo o recorte de Walda, a realidade frenética de uma metrópole com ruídos, conversas e outros sons dá lugar a uma cidade que ninguém percebe: uma Belém em silêncio. As fotografias retratam detalhes como santos, pinturas, azulejos, pontos históricos e a periferia da capital paraense. Em homenagem à fotógrafa a DESIGN.COM trouxe a esta edição 11 imagens e ouviu as impressões do colecionador de arte Eduardo Vasconcelos sobre elas.
Texto: Eduardo Vasconcelos.
Fotos: Walda Marques.
[…] Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização […]
Como um dos escafandristas de Chico, que exploram um Rio perdido, de tempos idos, Walda Marques esquadrinhou e recortou fragmentos de nossa Belém. Uma “cidade em silêncio”, por vezes trancada em si mesma, mas que se abre ao olhar inquieto da fotógrafa, que ao flanar pelas ruas, capturou a passagem do tempo e de uma memória que se esvai.
O silêncio, presente em suas imagens, transmite um grito sufocado, como quem busca reconstruir um tempo perdido. Vemos uma Belém borrada, sem limites precisos, com seus metais corroídos e azulejos partidos, emergindo após todo o abandono de sua história.
Diante de suas imagens, somos arrebatados por uma Belém mostrando a poesia de suas formas, que teima em se manter perante todo o caos que a invade. Sua beleza não se manteve imune, sofreu com a cruel visita do tempo, mas as marcas deixadas não enevoaram seus encantos, tornando-a indescritivelmente única.
Eduardo Vasconcelos
Professor universitário e colecionador de arte apaixonado por música, cinema, livros e fotografia. Além de Walda Marques, admira trabalhos de fotógrafos como Sebastião Salgado, Mário Cravo Neto, Miguel Rio Branco, Alair Gomes, Helmut Newton, Luiz Braga, Miguel Chikaoka e Alexandre Sequeira
“A cidade em silêncio, trabalho feito com o meu olhar totalmente voltado para a arquitetura riquíssima e decadente da cidade de Belém. O Tempo, o abandono e o poder são os senhores responsáveis por uma cidade que cresceu e se perdeu da memória. Essa é Belém, os seus casarios são verdadeiros fantasmas… As cores e um ar de sonho molhando me passam um cheiro forte, um limo que me faz mergulhar e ver detalhes nunca mais olhados em cada janela, igrejas e praças, portões, que assistem o tempo correr entre buzinas e sons frenéticos. A cidade? Ela dorme sempre esquecida. Sua memória vai ao chão e dá lugar ao consumo abusivo, o consumo louco que cada um não se cansa de ter. Imagino sempre cada tecla de piano tocada e os burburinhos das festas em cada casarão fechado de uma memória que se foi com a música da chuva parar em um ralo qualquer…”.
Walda Marques