A partir do dia 31 de março, a designer e artista Maria Fernanda Paes de Barros participa da Tel Aviv Bienalle of Crafts and Design, em Tel Aviv, Israel. Em sua segunda edição, o evento que começou em 2020, deve acontecer no MUZA – Eretz Israel Museum, tradicional instituição multidisciplinar dedicada à preservação da cultura material presente na região. Pela primeira vez, 18 artistas e designers internacionais, de países como México, Tailândia, Suécia, Austrália, Nigéria, África do Sul e Brasil, compartilham o espaço com artistas israelenses e palestinos.
“O Oriente Médio, de modo geral, tem técnicas artesanais com milhares de anos e, ao mesmo tempo, integra passado e presente de uma forma que não costuma ser vista em outras regiões. No design, isso se reflete em peças contemporâneas que reverenciam as tradições. Desta vez, tenho a chance de dar uma pequena amostra de como o design brasileiro é potencializado quando consideramos as diversas contribuições artesanais encontradas no nosso país”, revela Maria Fernanda.
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O convite para representar o Brasil partiu de Kevin Murray, escritor, acadêmico, editor da revista australiana Garland e curador da ala internacional da Bienal. Segundo ele, o recorte curatorial compreende artistas que ressaltam as tradições culturais e criativas de seus respectivos países, trazendo uma integração linear e colaborativa entre primeiros e segundos povos e reposicionando o tradicional dentro da contemporaneidade. “Os artistas foram selecionados porque seus trabalhos traduzem técnicas e histórias antigas em formas contemporâneas. Seus trabalhos combinam criatividade, habilidades e também demonstram uma preocupação com a responsabilidade social, sempre evidenciando aqueles que detêm e que vivenciam a tradição”, afirma Murray, que também é vice-presidente do World Craft Council Asia Pacific Region.
Designer e artista brasileira é destaque na Bienal de Design
Do Alto Xingú, no Mato Grosso, Maria Fernanda apresenta obras desenvolvidas em parceria com artesãos da etnia Mehinaku, reconhecidos por sua rica produção artesanal. O Armário Oca, que faz parte da Coleção Xingu, foi criado em 2020 e carrega consigo elementos que remontam à arquitetura das ocas da aldeia Kaupüna, onde a designer ficou imersa por cinco dias. Com estrutura em madeira cabreúva, a obra também é composta por esteiras trançadas com a palha de buriti e algodão tingido com elementos naturais encontrados no entorno da aldeia. Especialmente para a Bienal, em parceria com a jovem artesã Kayanaku Mehinaku, Maria Fernanda também produziu a obra O Caminho, uma tapeçaria que mistura os talos de buriti, jequitibá rosa e algodão com tingimento natural, que formam grafismos simbólicos da etnia.
Cadeira Cocar
Também feita em madeira cabreúva, em 2019, a Cadeira Cocar, da Coleção Alma-Raíz, incorpora o trançado em palha de tucumã, palmeira nativa da região do Rio Arapiuns, no Pará. Por lá, a tradição do trançado é uma atividade que atravessa gerações e se mantém como a principal fonte de renda de diversas famílias ribeirinhas. A peça já esteve em mostras e eventos em Genebra, na Suíça, Bruxelas, na Bélgica, Paris, na França, e Nova York, nos EUA.
Durante a Bienal, que se estende até o mês de novembro, também será possível conhecer os trabalhos de uma joalheira tailandesa que trabalha com uma aldeia em seu país que preserva a fabricação de sinos antigos, uma ceramista sul-africana da etnia Xhosa, cujo trabalho em cerâmica evoca o aprendizado ancestral e um artista australiano aborígine que esculpe padrões tradicionais em folhas de alumínio usadas na mineração. A mostra ainda conta com outros 14 artistas internacionais, dentre eles, representando a África, do Sul, Austrália, Vietnã, Nigéria, Chile, Índia, Suécia, Irã, Tailândia, Coréia do Sul, México e Nova Zelândia.