A paisagem do Ver-o-Peso de hoje é bem diferente do espaço de 400 anos atrás. Iconografias e documentos históricos mostram que toda a área dos mercados e da feira livre era uma grade praia e foi aterrada, explicou o professor, arquiteto e urbanista Flávio Nassar, em uma matéria especial publicada na 3ª edição da revista Design.com. Flávio Nassar morreu nesta quarta-feira (23), aos 69 aos, em São Paulo.
A praia se estendia até a rua XV de Novembro. As funções urbanas que o complexo exercia também eram bem diferentes das atuais. Hoje o Ver-o-Peso assume um papel relevante na imagem que a cidade tem de si e na imagem que ela projeta para as outras capitais. “Atualmente a principal imagem associada a Belém é a do Ver-o-Peso, a feira assume o papel de cartão postal”, explicou Flávio Nassar na época.
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Leia a matéria com Flávio Nassar na edição 3 da Design.com
Mitos em relação ao Ver-o-Peso
Belém alimenta mitos em relação ao Ver-o-Peso, entre eles o de ser a maior feira a céu aberto da América Latina. “As feiras de São Cristóvão (RJ) e de Caruaru (PE) são bem maiores”, explicou Flávio.
Outro mito é em relação à sua origem e ao nome ‘Ver-o-Peso’, que não está ligado à instalação da balança das primeiras décadas da fundação de Belém (1639), como muita gente pensa. A balança, que mostrava o peso exato das mercadorias, era ligada à alfândega e usada para a importação e exportação.
Como era o Ver-o-Peso em Belém
Segundo Flávio Nassar, a Feira do Ver-o-Peso surgiu no início do século XX, depois do aterramento de toda a área da praia, desde a Av. Assis de Vasconcelos ao Forte do Castelo. Sobre o aterro foram construídos os mercados de carne e de ferro. A feira, por sua vez, surgiu depois que os mercados se consolidaram.
Antes disso, ali funcionava a ‘Casa das Canoas’, onde se guardava as embarcações do governador. A feira pública por sua vez ocorria onde hoje é o Largo das Mercês e havia um porto junto ao Pelourinho onde também era realizado comércio.
O urbanista se mostrou preocupado com a deficiência na limpeza e conservação do local, a deterioração dos casarões, postes, luminárias, azulejos, pedras e calçadas. Segundo sua explicação, por ser um espaço “nervoso” da cidade, por seu passado e sua importância na representação de Belém, é muito difícil fazer atualmente um projeto que contemple todos os interesses: sociais, políticos, comerciais, dos que exportam peixe, dos que vendem na pedra, …
É preciso diminuir a quantidade de ônibus que passam pelo Ver-o-Peso
“Tem que diminuir a grande quantidade de ônibus que passam por ali, ou seja, planejar o transporte coletivo de Belém, senão não é possível manter uma feira mais organizada e limpa. É preciso ainda sair de lá o comércio de peixe que vai para a exportação, pois é muito grande o fluxo de caminhões de supermercados e de outras cidades que vêm comprar o peixe dos barqueiros”, explicou Flávio.
“Isso nem é uma atividade histórica do Ver-o-Peso, histórico é o mercado, que desde o início serve à comunidade local. Isso causa uma descaracterização, um uso não compatível com aquela estrutura urbana. Devia ser criado um polo pesqueiro fora dali”, continuou.
Ainda segundo o urbanista, o projeto urbanístico ideal para o Ver-o-Peso deve conciliar os diversos interesses do local com os interesses da cidade. “Antes de ser uma intervenção urbanística, é uma intervenção de arquitetura, de engenharia urbana, ou seja, social. O que esse espaço representa para a cidade e para as pessoas que estão nele?”, questionou.
Ao longo da história o papel do Ver-o-Peso na cidade foi mudando
Praia –> Pelourinho –> Armazéns –> Feira nas Mercês –> Construção dos mercados de ferro e de carne onde era praia –> Feira livre –> Cartão postal
Fotos: Walda Marques